R.,
Ainda podias ser o meu R., sabias? Não o R., mas o meu R. É, e eu infelizmente ainda queria que tu fosses meu. Mas por circunstâncias que tu escolheste tu já não estás mais aqui e já não és mais meu. Não um meu entregue porque hás-de sempre ser um bocadinho meu – nem que isso seja nas memórias – mas já não és meu e passaste a ser de alguém, e quanto mais cedo eu aceitar isso melhor. Isso e o facto de já não seres o meu amor, não o meu amor mas para sempre o meu grande amor.
Ainda queria poder amar-te de outra forma que não no silêncio, e ainda estou a aprender a fazê-lo, tu sabes, a esconder os meus sentimentos, ainda estou porque estive contigo por quatro anos e meio e tudo o que fiz melhor foi amar-te, mesmo por entre todos os buracos escondidos de quando nos separávamos por algumas semanas ou meses, tudo o que fiz foi durante estes anos amar-te incondicionalmente nas tuas idas e nas minhas vindas.
Ainda te amo – ainda que cada vez mais em segredo – e amo-te mesmo depois de te ver largar o meu coração sem qualquer tipo de contusão, ainda te amo mesmo que agora sejas tu com o teu orgulho e tu sem alma alguma, ou tu uma pessoa desengraçada, amo-te mas já não o pronuncio em voz alta, porque tornou-se assustador – não só este sentimento mas tu.
Não havia ninguém que fosse tão casa como tu, ninguém, não havia melhor ponto de fuga, não havia melhor pessoa. Não havia melhor lugar para estar que não o teu coração. Mas já não sei se tens um agora, já não sei porque deixei de conseguir descodificar-te por todas as atitudes e mudanças que carregas em ti. E tu não sabes como custa, tu não sabes como custa perder a melhor pessoa da tua vida para o tempo, e depois do tempo para outra pessoa. Eu perdi não só o meu namorado mas o melhor amigo. Perdi-o(s) quando desististe de mim.
Eras a única pessoa que não podia ter desistido e lembrar-me disto dói-me muito, ainda me dói muito e todos os dias, não fosse eu ter-te feito pensado que tinha desistido primeiro, e não fosses tu pensar sequer que isso era possível, não fosse eu amar-te com tudo o que tinha. E podiam ter desistido tantos outros, só não podias ter sido tu, tu que nunca me pareceste provável de o fazer, tu que me fizeste acreditar que tu serias a única pessoa que não ia desistir nunca de mim.
E no meio disto o que é que me sobra, se a tua mudança desgastou o meu coração e a minha pequena alma? O que sobra se não o meu corpo sem rosto? O meu rosto era feito do olhar e eu perdi o meu, talvez porque o teu fosse reflexo do meu, mas eu perdi-o, e isso é a coisa mais triste de se perder. Mais do que perder a alma, mais do que isso, é perder o olhar, porque é tão difícil recuperá-lo, tão. Como este amor. E logo eu que sempre disse que enquanto acreditasse no nosso amor ia continuar a tentar, não consigo mais. Não consigo porque tu me deixaste tão distante do lugar onde me queria achar, tão distante, tão afastada do teu coração. E a esperança no meu olhar apagou-se.
Como todas as coisas que fui desenhando para ti, parecem-me tão distantes agora e tão longe de me completarem. Tão apagadas. Tão fundas como as minhas feridas. Pergunta-me onde estão as minhas maiores feridas, pergunta-me que eu respondo-te que estão no meu coração e foste tu que as deixaste. E todas abertas. O meu coração desnudou-se completamente e eu não deixei o meu coração como tu deixaste que eu fosse embora. Eu não o deixei, como tu deixaste esquecer-te de mim.
E como eu não queria que te esquecesses de mim, mas queria tanto esquecer-me de ti, para não me lembrar daquilo que nunca foste por mim, porque não podes ter sido, se não nunca me tinhas deixado ir, ou deixado desesperada a interpretar minuciosamente todos os gestos que compartilhamos para ver onde (te) falhei. Onde te falhei, ou onde nunca optei pelo caminho mais fácil – desistir.
E estupidamente acreditei que nós partilhamos o que às vezes nem se encontra- o amor sabes? Pelo menos eu sei que partilhei, mas espero que te venhas a esquecer disto, porque em mais nenhum dia te vão amar assim – de maneira quase perpétua. E ama-se poucas vezes. Quer-se cuidar do outro poucas vezes.
E espero que saibas que desta vez eu estou mesmo magoada, como nunca antes, e que podemos namorar por quem nos apaixonamos e gostar de quem amamos (simultaneamente), e se calhar por isto, é que mesmo magoada vou sempre gostar de ti, porque eu amei-te de verdade e para valer, mas tu não soubeste ficar com isto, ou retribuir-me, e eu nunca vou esquecer como me magoaste desta vez.
E eu vou deixar de sentir a tua falta, ou pelo menos vou aprender a viver com ela, ou com o insucesso de um dia te ter entregue o meu coração. Não o penses como teu para sempre, não o faças. Porque desta vez tu magoaste-me muito, muito, mais do que eu possa escrever. E se eu soprar, o pó vai embora, mas seu eu te soprar a ti e às dores que me deixaste, vais embora como o pó? Bolas, tu já foste…falta só a dor. E as promessas por cumprir.
«Não te vou deixar nem quando as galinhas tiverem dentes». E esta foi a maior promessas por cumprir ou mentira que me cravaste. Ou então cresceram dentes às galinhas e eu não fiquei a saber.
Para sempre um bocadinho tua,
Eu com um adeus