Eu e a agulha somos tão amigas, como eu e a tesoura - como me desprego de ti facilmente, como rasgo os fios (soltos) das memórias; quando as tuas palavras são tão frias como o inverno no pólo norte; Mas ao mesmo tempo, sou tão cúmplice da agulha, que cozo as memórias retiradas; quando o teu olhar é tão quente como deserto sara.
Comprometo-te a arrancar tudo! Arranco mas cozo, agora eu cozo é no lume! Vou cozer todos estes dias, estas semanas, meses, estes anos: vou coze-los; mas vou coze-lo e deixa-los cozer até ser só vapor; só restar vapor. Vou abrir as janelas e deixar correr toda a tua humidade
Não! Quem estás tu a enganar, Mafalda?! - Eu vou guardar um bocadinho; só um bocadinho para quando a saudade apertar, só para a (me) alimentar.
Oh, tenho fome! Fome tua! Quero ser alimentada pelo teu amor: quero guardar tudo, tudo.
Vou correr atrás do húmido ar, e vou fecha-lo; como se fosse possível conte-lo.
Não, espera! Vou voltar o tempo atrás, ou nem preciso de tanto; Vou correr atrás de ti meu amor - não quero saber do passado, quero o presente, e no presente eu continuo a querer-te: tal e qual como no passado.
Vou atrás do vapor, talvez ele já tenha chegado a ti; já te tenha contado a loucura do meu amor: a fome do teu sabor! Oh meu amor, como eu preciso que me alimentes…
Estou presa ao teu ar, estou atrás do teu cheiro, eu sinto-te, sinto-te tanto!
Mas preciso de ganhar força, para alimentar a minha fome; vou só fazer um desvio até nós - até aos bancos dos segredos, passear pelas ruas das nossas testemunhas; Oh eu preciso de todo este percurso, para “comer” as memorias.
Não! Quem estás tu a enganar, Mafalda?! - Quem eu quero, quem eu quero comer de amores, és tu; tu meu amor. Não me alimento com memórias.
Olha, mas cá estás tu! Estás acorrentado de vapores, cozido ou cosido aos fios dos amores; Oh meu amor, também sofres por mim?
“Sim” – sim: mas a tua dor é diferente. Já conheço o discurso!
Eu vou rasgar com os meus dentes, todas as tuas mágoas, todos os meus pecados, todas as minhas derradeiras heras; vou comer as memórias do teu corpo.
Porque sabes, apesar dos “de”; eu adoro as nossas memórias: boas ou más; por isso eu como-as, como-as com gosto; como-as para tu as deixar, isto em troca de um presente.
Oh meu amor, alimenta-me: arrumamos o passado e eu dou-te um presente cheio de tudo; menos de dor!
Vou cozer ou coser(-te) em mim!
(Meio de Junho de 2009)
* Quer sejas memórias;
Quer sejas realidade -
Vou amar(-te).
Porque realmente,
és a linha mais bem definida,
no meu pedaço de trapo humano.