quarta-feira, junho 3

Pudor do verão

deitada em grãos de areia e perdida em sacos de desejos, sobre um luar pouco banal, era a chuva de estrelas, tinha começado o nosso verãozão. entre experiências e confissões, muitas emoções, entre tendas e casinhas, rolotes de amiguinhos, conversas e batidinhas, um bocadinho p'ro alegrezinhos, o nosso grupão faz um ocupão. numa rodinha, grupinhos se fazem, e entre coros e paleios, entre mentiras e um insistir danado, com uma perspectiva destroçada da realidade e entre mexericos e mexicanos, umas mentiras se contam, umas mentiras se dizem. sem mais que fazer, espalhando de boca em boca, a fama se faz, a mentira se cria. mas perdidas em microfones, cantorias, iludidas pelo paraíso, nem se apercebem que os mexericos são relativamente a elas, a elas e a uma noite de horror, continuam, continuam gritando e não cantado, em cima do palco com o show já quase feito, entre quinze a vinte, sobre um nevoeiro que se formara, era mais o instrumental que o nanana da música. com desatinos e atrofios, com a melhor sorte para a fama, beijinhos da amizade já tinham sido trocados. e o destino já pregado e destacado, estava marcado, envolvera agora as rainhas, entre a ânsia de vontade de doces pecados. nas mistelas dos sonhos e nas mentiras de palhaços, perdidas caíram em bolhinhas de vontade, por entre a espuma e o esfregão, esfregaram tanto que ficaram com o bastão. entre o querer e querer muito, nada fica, os olhares mais cúmplices tornaram-se mais apetecíveis e estava já tudo programado, e entre um ou outro envolvente toque de mão, levara agora ao querer do coração, o impossível era dizer que não. depois de uma ou outra confusão, um gritão e um puxão, por um favor se reanimaram, não os sete, mas um dos sete pecados da perdição. envolventes pela noite, cobertos pela lua, sobre o efeito do esfregão, depois de um conversão, que levara ao suor do perdão. a conquista de mais uma ele já a tinha conseguido, não havia espaço para não mais querer, para não mais dizer. e um desejo de caminhar do frio ao quente, juntara, duas almas, entre lençóis de mentiras, cobertos de suor perdido e entrelaçados neles, enrolaram-se os dois, quase como montados, e ensonados, depois de um toque corporal intenso, quase sem remexer, adormeceram assim. e quando a noite fugiu do dia, nasceu um novo destino, e um último toque se fez notar, suave para não criar uma ilusão ou para não quebrar a perfeição, são uma ou duas questões que sempre ficarão. em frias noites de verão, em frias águas de sabão, em mágoas, revoltas e dores, um chegar e atirar se pôs. o azul incolor, ficara agora laranja e amarelo, e em mistelas de ilusões de cores de balões, o tempo passava e dia por dia, as bolinhas feitas em noites de rainhas, começavam a fazer contagem decrescente para rebentarem, reflectindo nelas, carinhas com a necessidade de envolver ciúmes e birrinhas parvinhas. entre amigos e amigas, coros e coroas, os dias iam passando e a vontade de ir ia trespassando. cegas e sem sentidos, sem perceber, deixavam-nos entrar e sair, e eles, sem entender porquê e como, tanto as tinham perto como se voltavam a desaparecer. mas jovens, sem capacidades, quase como desconhecidas, envolveram-se numa rua perdida de difícil retorno, quase como apaixonadas e comprometidas, disfarçadas como bem servidas, já se apercebiam de onde se cruzavam, e sabedoras mas pouco inteligentes, fecharam as portas e destacaram importância a uns que só queriam umas quaisqueres. e numa de se vingarem em si, um por aqui e outro por ali, o calorzinho da noite fria, já subia à garganta. danças e mestranças, uma exaltação de perdição, tornara possível uma nova oportunidade, um novo ideal. incapaz mas tentada, após um contar das estrelas, esse mesmo número de estrelas e com a ajuda da lua criou uma ligeira barreira entre ambos, que a fez gritar um não na solidão. perdida e mais tarde achada na escuridão por ti, eu sei, que estavas longe de algum dia seres a minha consciência de lucidez. e agora cobertas por inveja e pudor, e como ela o diz, da pouca iludida ilusão, e com mais uns quantos mantos de nojice sobre os nossos ombros e um papo na garganta bem seco, eles permaneceram, sem mais para receber e tanto por dar. as bolhinhas teimarão em fazer rebentar-se todas umas a seguir ás outras, mesmo à frente dos nossos narizes, talvez porque as tentamos apanhar e guardar no bolso, não sei. novos horizontes se construíram, e destacaram-se novas pessoas, mas a cicatriz que as cegara permanecera. e sabendo a história de cor, a história que não se deixava morrer apenas adormecer, já a nossa conhecida, tanto eu, tu, como eles, era sempre igual: a lua era sempre o mesmo pecado, o da ânsia, da vontade, porque a noite nunca os separara, apenas os unira. e após caminhos diferentes, estradas correntes de crescimento, estavam sempre longe mas sempre juntos, seguiam lados opostos mas encruzilhavam-se sempre na mesma saída, a lua sempre os tramara. mas açucaradas e meias aparvalhadas, mostrando o seu melhor, com vontade de ajudar, perderam-se na caixa do doce amargo sabor do açúcar. envolvendo crianças, discursaram sobre os erros que eles próprios já tinham cometido, falaram para lá das desilusões, das trocas e o sentir na pele o que uma vez e outra já fizeram. ressentidas e com mania, sem esperar, sem dependência, seguimos viagem até ás brisas do mar. e entre o vento de dor e saudade do amor, cantando com dor, iludidas por pudores de noites de amor, adormeceram mesmo ali, sobre as estrelas entre grãos de areia e o cheiro do mar. o mar, as ondas do mar, era como te descrevia, não só a ti, mas a ele, secalhar até mesmo a nós, era tão idêntico, nunca parados no mesmo sitio, tal e qual como as ondas, vão e vêm, tal e qual como as ondas. mas torrõezinhos de açúcar, com o coração que não disparava, avisadas e relembradas, envenenadas e baralhadas, nem uma pancada maior as despertava. interrogadas e convidadas era barras atrás de barras, eram enganadas. uma na esperança e outra molhada, por uma valente ilusão de jacto de água, ainda abananadas, sabíamos o que nos contavam e não nos importávamos. porque apesar de tanta perdição, sempre se convenceram e repetiram tantas vezes quanto preciso, que: não queriam mais do que já tinham dado, queriam apenas o que tinham para dar, queriam somente o que eles, ensinaram que elas iam ter. chocando e concordando, em vez de rasgarem as vendas, descoseram apenas um bocadinho, fizeram somente um furinho. todos repetiam e diziam que aprenderiam mais com quaisqueres outros que com os próprios, e sabendo e mais lúcidas, iam abrindo um olho de cada vez, mas já iam tarde, tarde para se desfazerem das bolhinhas que guardaram no bolso e pensaram que tinham rebentado, estas, agora pareciam aumentar. e por mais aventuras, entre lágrimas e abraços envolventes, um esquecimento teimava em não aparecer, parecia um entardecer de tudo. e o mal dito orgulho e teimosia, que se faziam notar quando menos deviam e que era difícil de travar, fazia piorar e deixar a vontade ficar. cobertas de respeito, respeito que esperavam e criavam, respeito pelos dois, as tentações eram guardadas e as explicações eram inegáveis, quase como o inevitável. entre trovoadas, chuvas e relâmpagos, o medo apoderou-se, cobertas de lama de alegrias e tristezas, que tanto as faziam rir como chorar, o fim do paraíso estava destinado a acontecer, arrecadavam a câmara e tiravam a saudade. entre trocas e promessas, juras perdidas, a noite da independência conquistamos. entre vitórias e cerimonias, o canto do último dia surgira. confissões fizemos, orgulhos mostramos, na última volta por tudo aquilo que nos fizera tornar mais forte, tudo o que aprendemos. e rindo a chorar, cantar para disfarçar, sentido pedrinhas no meio de confusões e malandrices, o cheiro do ‘sabor’ do vinagre, possibilitara um novo rumo, uma diferença. depois de atribulações, nojices e perdizes, a concretização de uma noite de desejo ainda agora começara. e entre lençóis de mentira e mantos de pecados, o suor da verdade escorre. pois um envolvente toque de mão, levara ao grito da paixão e perdição, que por baixo da lua, com o desejo da vontade, concretizara a junção da transparência de dois corpos em ânsia, sem tirar nem pôr. era quase como inevitável, era quase como planeado, impossível de se resistir. e de novo, a mesma lua que os acompanhara, a mesma lua que os separara. pois, a lua é sempre o pecado da paixão de verão. e foi já de dia, com a luminosidade do sabor, em que um último toque se deu, uma última volta aconteceu, um ultimo beijo se trocou. elas seguiram e eles ficaram. sem espaço para arrependimento, por uma estrada sem sabor e sem desamores seguiram, tornaram marcante e apaixonante o verão sem pudores. entre um circular de sentimentos, um sonho de sabão, uma perdição de ilusão, uma impressão de bastão, tudo contou e tornou o paraíso nisso mesmo. E com convicção se acentuou e gritou: O MELHOR VERÃO. e foi, sorrindo e com os olhos brilhantes que largaram as malas e bagagens no chão do coração, pois num encontro à realidade, já estavam na turbulência da cidade, sem o sinto de segurança, tornando tudo isto apenas imortal, não esquecemos só adormecemos. mas ainda assim, não fazendo planos para o futuro, quem sabe, um dia, no mesmo sitio, não possamos voltar a sentir a mão mais quente por a tua ter pousado por cima, quem sabe não estejamos novamente entre os grãos de areia a cantar que nem doidos, quem sabe não estejamos outra vez repletos de suor do pecado, quem sabe não estejamos juntos todos novamente, ninguém sabe.

(Agosto de 2007)


escrever por escrever,
por entender,
(em pausas de ti..)

4 comentários:

  1. Lindo é os textos que tu escreves.

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  2. Não me agradeças Mafalda, asério. Faço-o de coração, não de cabeça... e o coração não pede agradecimentos.

    Juro que amo a forma como sentes o que eu sinto!

    OBRIGADO (L)

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  3. Tanta nostalgia e saudade , é o querer-voltar-e-não-poder . Ficam as memórias x)

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