sexta-feira, julho 23

Mafalda e as parecenças com o chocolate

Lembraste quando ontem à noite fizeste leite de creme com cobertura de chocolate e depois quiseste inventar e misturaste leite condensado e trituraste uns pedaços de chocolate amargo para adicionares como cobertura ao teu doce?
Pois bem, sinto-te tal e qual esses pedaços de chocolate:
triturada, amarga e (um) "anexo"!

segunda-feira, julho 5

Desejos

«Larga tudo e fica comigo».Era assim que a conversa começava sempre, ou era assim que ia parar ao mesmo. Mas o excesso de desejo era a garantia que “nós” nunca ficaríamos juntos.
Entre tudo ou nada, eu escolhia “ser um apêndice” e tu entre tudo ou tudo, escolheste “ser um acréscimo”. Éramos dois amantes escondidos num conto de palavras.
Eu era um anexo da tua vida real. Era o sonho, as saudades, o que faltava para seres completo. Para mim, eras mais…eras um todo.
A ti “matava-te” o facto «de não conseguirmos construir alguma coisa», a mim só me consumia o facto de não conseguirmos continuar alguma coisa. Afinal, nós tínhamos a história que queria digitar na parede do meu quarto, não com medo de me esquecer, mas para me inspirar todos os dias. Inspirar-me a não correr por ti!
Não sou grande, não sou madura. Sou mais uma pequena criança, que todos os dias se lembra que histórias como a nossa só servem para assombrar o coração, e que episódios destes, não têm outro lugar se não na ficção. Pareces protagonizar cada incidente da minha vida. Sabes, eu pareço-me com uma televisão.
Programas-me e consequentemente, programas-nos. E isto faz-me ver que não posso correr por ti. Não posso apanhar o teu comboio, ou não o posso apanhar por ti. Nada mudou desde que eu cresci, ou desde que pensas que cresci. Eu continuo a mesma criança, mas agora com menos medo de ti.
Somos anos de tentativas falhadas, somos anos de palavras consumadas, somos anos de desejos arrecadados. Somos isto enquanto plural. Já em pessoal, fui soberba e pavor, agora sou a percepção.
«Fazes bater mais forte e não te ter, dói». Estas eram já palavras cansadas, funcionavam como “discos riscados” e “expressões coladas”. Gostava que me as dissesses, mas gostava que me dissesses só a mim.
Ainda me assombras o coração, mas não (deves) assombrar só o meu. Sou pequena, mas já não corro por ti. Porque para ti, não podes ser só tu, mas por ti, poderia ser só eu.
És a minha fantasia mais bem guardada. E hoje, sem medo, somos só bonitos bocados de plasticina que se moldam no dia-a-dia, a episódios que contornem este desejo, e se ajustem a esta ausência.
Tivemos a nossa hipótese, mas não conseguimos, não conseguimos ser mais que este “vaivém”. Agora eu gosto deste inconstante e tu estás longe de apreciar “o que me move”.
Aprendi que somos o desejo, e o desejo não tem lugar, aqui no real. Não corro por ti porque nenhum de nós na verdade, «deixaria tudo por nós». Porque se assim fosse…eu já tinha “abandonado”, e tu já tinha “largado”.
Somos uma bonita narrativa. Mas acho que nos acomodámos a ser a saudade, o desejo e a ausência. E ainda somos bonitos, porque o destino o quer. Nunca esboçamos um encontro, nunca tivemos um. Somos alvo do destino. Ele é que nos une a este desejo e nos transporta a uma estação, que é tão ideal, quanto nós. Tu és um ideal e os ideais não se conseguem.
«És tudo o que sempre sonhei» - e disto tiro uma lição: sonhar não é poder pelo menos "aqui",. Porque nós tínhamos/temos sonhos conjuntos, muito altos, mas impossíveis, para duas pessoas como nós. Escondidas do coração e que aprenderam a não correr por esta ânsia, por este excesso de desejo. E é este desejo que é uma utopia e é a segurança que jamais apanharemos o mesmo comboio, porque um desejo deste tamanho não é real para a alma, não cabe no coração. Real é só a ausência que o acompanha. A tua ausência.